quarta-feira, 9 de março de 2011

Uma viagem daquelas


Viajar de avião não está entre meus melhores programas, aliás, minha preferência nacional é bem outra. Sei que muitos apresentam um pavor quase que incontido em voar, mesmo sabendo que apenas uma em um milhão de pessoas morre em acidentes aéreos. Alguns passam mal, sentem enjoos, tonturas, ansiedade dias antes do voo, e outros entram em pânico durante a viagem. Não me qualifico entre essas pessoas, o que não gosto é de voar com asas de terceiros.
Meu hábito sempre foi chegar ao aeroporto com muita antecedência para evitar nervosismo em filas e principalmente, pedir, se possível, um lugar na frente da aeronave, onde normalmente é mais quieto e suave, além de comprar revistas ou algum livro interessante.
Decolamos de São Paulo à noite com destino a Curitiba, sentava-me na janelinha, o tempo não estava lá essas coisas, uma chuva fraca e intermitente nos acompanhou durante boa parte do trajeto.
 - Cavalheiro – disse-me o senhor ao meu lado – Queira desculpar o incômodo, o tempo previsto para este trecho é de aproximadamente quarenta e cinco a cincoenta minutos, já completamos, o senhor não acha que já era para estarmos em procedimento de pouso?
- Senhor – respondi delicadamente - não notei redução das turbinas, portanto acredito que ainda estamos em rota.
Continuei minha leitura tranqüilamente quando:
- Cavalheiro, queira desculpar novamente, o senhor escutou se o trem de aterrisagem foi acionado?
- Não! O comandante sempre avisa a tripulação e passageiros quando o pouso é autorizado pelo aeroporto, posteriormente ele desce o trem, portanto, a aterrisagem ainda não foi autorizada.
Retomei minha leitura, alguns minutos após:
- Cavalheiro, se o senhor me permitir.
- Pois não senhor, diga – descruzei as pernas.
- Gostaria de compartilhar algo com o senhor – acredito que estamos voando em círculos.
- Em círculos? – indaguei - cruzei as pernas.
- Perfeitamente cavalheiro – respondeu-me convencido – O senhor pode observar cavalheiro, estamos há alguns minutos levemente inclinados para a esquerda, veja com seus próprios olhos.
Olhei com meus próprios olhos - É, de fato, não tinha notado, mas fique tranqüilo senhor, por se tratar de final de semana o aeroporto deve estar movimentado e aguardamos nossa vez para descer. Em situações como esta é normal voarmos em círculos.
- Espero que sim cavalheiro – respondeu levantando as sobrancelhas e balançando a cabeça – Espero que sim!
Descruzei as pernas, fechei o livro, peguei um resto de jornal já bem gasto, alguns instantes após:
- Cavalheiro, definitivamente algo está acontecendo, o senhor por gentileza pode olhar pela janelinha para verificar se são visíveis as luzes de Curitiba ou se há formação de neblina? No aeroporto de São José dos Pinhais  as neblinas são muito fortes.
Olhei – Senhor, consegui ver as luzes, deve ser Curitiba, porém já desapareceram, de fato há neblina lá por baixo.
 - Era o que eu temia – respondeu um tanto trêmulo – os pousos nessas situações são terríveis, ainda mais se a aeronave não possuir instrumentos para navegação em neblina, tem que descer no grito da torre!
Pensei – não quero ficar nervoso e não vou! Abri um trident de canela e masquei-o furiosamente.
- Ca...cavalheiro – desta vez já me apertando o bíceps do braço direito – Não quero que o senhor se irrite ou mesmo fique nervoso com o que vou falar, mas o avião andando, ou melhor, voando em círculos, quase sempre o objetivo é gastar combustível, acho que enfrentaremos uma aterrisagem de alto risco, e tem mais, o trem de pouso deve estar emperrado, desceremos de barriga!
Cuspi o trident, desembrulhei outro, era audível o som dos meus molares amassando o chicle, quando uma voz irrompeu sobre nossas cabeças:
- Senhoras e senhores passageiros, é o comandante que vos fala. Nosso pouso no Aeroporto Internacional Afonso Pena foi autorizado. Solicitamos que travem suas mesinhas e retornem o encosto de suas poltronas para a posição vertical mantendo os cintos afivelados, e por gentileza não fumem. Agradecemos a preferência esperando tê-los novamente em nossos próximos voos. Boa noite a todos e uma ótima estadia em Curitiba.
- Graças ao bom Deus – exclamou meu amigo levantando os braços e olhando para o alto – Graças ao bom Deus!
O pouso foi tranqüilo sem qualquer problema.


17 comentários:

  1. Olá Miguel estive lá no Blog do Uol e só posso adiantar que aqui tudo fica mais fácil . S quiser visita omeu Blog : http://claudete-viaspercorridas.blogspot.com . Comentei esta postagem no outro Blog. Bjs.

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  2. Olá, passei para visitar. Gostei muito, parabéns.
    Ficou muito bonito e veja que você tem muitas opções de cores. Salve os textos antigos( do outro blog) para não perdê-los. Um beijo

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  3. Se sentar-se ao meu lado um nervosinho desse, eu o mando a PQP. Não tenho medo de voar, mas odeio gente nervosa do meu lado, affffffffffffffff.

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Miguel

    Excelente artigo. Parabéns.

    Vôo sempre com medo.
    Uma ocasião ao se aproximar do pouso, o avião começou a balançar todo, e eu comecei a respirar profunda e ofegantemente.
    A moça, ao meu lado, me perguntou:

    - Você está com falta de ar?
    - Não, querida; estou com falta de chão.

    Ela riu à gargalhada e aí passou o meu nervosismo.

    Abraços

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  6. Miguel,
    Numa viagem para Cuiabá, já à noite, o Fokker 100 da TAM, daqueles que caiu um em cima das casas, logo após levantar voo de Congonhas, fazia escala em Araçatuba (se não me engano de cidade, faz bastante tampo). Lá pelas tantas, começaram as turbulências, com constantes aumentos e diminuições do barulho dos reatores. A apreensão pairava no ar e o avião não chegava nunca em Araçatuba. Depois de um bocado de tempo, o piloto anunciou: "Senhores passageiros, estamos aterrizando em Uberaba!" Ao mesmo tempo que chegava a sensação de alívio, a constatação de que havíamos passado por algo muito grave também tomou conta de todos, afinal, tivemos até de mudar a rota. Dois minutos depois, voltou o piloto: "Senhores passageiros, desculpem o engano. Estamos aterrizando no aeroporto de Araçatuba!" Já pensou? Ele não tinha estado nem aí com o que estava acontecendo. Devia estar dormindo. Ou estava bêbado. Ou estava se distraindo com a comissária... Se distraindo quer dizer: estavam conversando sobre os fatos corriqueiros do dia a dia. Não pense mal da pobre moça! Você só pensa "naquilo"?

    Miguel, parabéns pela mudança! Ficou muito bom. Já vou fazer a alteração, lá no meu blog.

    Abração.

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  7. Olá Miguel!

    Seus textos são excelentes, já o coloquei entre meus favoritos.

    Parabéns!

    Beijo

    Carla

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  8. Oi Miguel.
    Hehehe, por esta e outras prefiro viajar de carroça. Pouco viajei de avião e faz um bom tempo que não o faço. Na minha primeira viagem, nos anos 90, a bebida era grátis e liberada (bons tempos!). Embarcamos em Porto Alegre às 9 da matina e desembarcamos em Sampa três horas depois esbanjando vitalidade e alegria. Alguns passageiros assustados, falavam de turbulência durante o voo. Da minha turma, ninguém percebeu. Adivinha a razão(hic!hic!hic!).

    Um abraço e uma boa semana.

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  9. Miguel!
    Só com vc e comigo essas coisas poderiam acontecer.
    O cara colocando pilha! Hahahaha
    Saudade de ler seus posts. Acredita que só hj tive um tempinho pra passar por aqui?
    Mil beijos, querido! Boa semana.

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  10. Olá Miguel. Apreciei sua nova casa. Um cantinho legal. Muito bom o texto do avião. Imagino o seu nervosismo. Haja trident. Eu tb tenho esse costume. E tenho tb uma história assim interessante sobre minha 1ª viagem de avião. Uma ansiedade só. Qquer dia conto. Boa semana

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  11. Oi Miguel, vim agradecer pelos seus comentários no meu blog (que eu adoro) e também lhe parabenizar pelos textos, não importa o endereço sendo vc o responsável pelos posts, então está tudo certo. Abraços. Até mais!

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  12. Ah! Se fosse um trident de morango, ele teria se acalmado na hora! Rsrsrs

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  13. Hahaha... Depois de tantos "cavalheiro", o pouso não poderia ter sido mais "tranquilo"...rsrsrs... Legal q vc tb se mudou pro blogspot... bem vindo a bordo, amigo! Novo blog, novo post...confira! Bjs e fik c Deus.

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  14. Ficou maneiro esse blog, hein! O post muito bom.Ri bastante.Esse cara queria mesmo te matar de susto, hein!Rs rs rs. Um abraço!

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  15. AINDA BEM que o avião pousou logo em seguida, senão, tal qual o Apolônio da velha surda da praça, teríamos um Miguel comendo o jornal amassado e saindo em crise pelos corredores do avião...

    Ficou legal a nova casa.

    Beijocas!

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  16. Nunca voei, mas morro de vontade! acho que ficaria ansiosa ao invés de nervosa e sinceramente aguentar essa pessoa do lado seria extenuante! chato demaaaais.

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