Dinho é o sujeito que toda mulher amaria ter como marido. Faz tudo que um chefe de família precisa fazer, e muito mais. Paga as contas, vai ao supermercado, cuida dos filhos nas crises de choro em plena madrugada, inclusive paga os carnês das mal planejadas compras efetuadas pela mulher Cacilda. Sua única exigência é o cuidado que deve ser dado às suas roupas de final de semana – sua calça branca deve estar impecavelmente passada, a camisa bem engomada com o colarinho duro como uma taboa, e os sapatos bem engraxados, esta ultima tarefa realizada pelo Marinho, seu filho mais novo que sempre cobra pelo serviço – algumas balas Juquinha apenas. Dinho também leva o Marinho aos domingos pela manhã no bar do Magrão para tomar sorvetes.
Nas noites de sexta a domingo, Dinho poderá ser encontrado no Bailão, geralmente acompanhado da mulher. Mas vez ou outra, a sogra com alguma desculpa esfarrapada recusa-se a ficar com as crianças, e ele acaba indo sozinho ao baile para alegria das dançarinas colegas do bairro. O tal não nega fogo, é um pé de valsa daqueles e não perde uma música. Mesmo nos intervalos quando os músicos descansam, lá vai o Dinho ao som da vitrola deslizando pelo salão.
O Menezes passa a noite inteira sentado em uma cadeira derrubando uma cerveja atrás da outra, enquanto sua mulher, ao seu lado, balança as cadeiras e ensaia sozinha alguns passos. Se porventura algum cavalheiro se aproxima para convidá-la, ela vira-se de costas para evitar cenas de ciúmes do marido.
Carlão que diz à mulher que está freqüentando reuniões dos alcoólatras anônimos, está sempre no Bailão em companhia da Dorinha. Ela sai de casa com uma bíblia e diz ao feroz marido que vai ao culto interceder pela família, inclusive arrisca-se e insiste para que ele a acompanhe.
Martinha então contraria os princípios da dança, muito embora tenha freqüentado a escola de danças do professor Paulino, não aceita, em hipótese alguma, que seja comandada pelo cavalheiro. Quem dançar com ela terá que ceder aos seus caprichos e aceitar seu estilo, sob pena de ser abandonado em pleno salão.
Além de muitos outros dançarinos e pés de chumbo, mas todos com o objetivo de alegrar-se na arte da dança de salão.
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A canção a seguir foi um dos temas de um filme que assisti há alguns dias, sua história é maravilhosa, chama-se - “Minha Vida sem Mim.”
Ela levou-me de volta aos meus dezessete / vinte anos, época dos bailinhos de sábado à noite nas casas de amigos. Em toda seleção de músicas lentas, aquelas de dançar coladinhos, esta canção não podia faltar.
Íamos com nossas camisas coloridas e calças boca-de-sino, e as meninas com seus vestidões rodados, sapatinho baixo e meias brancas dobradas sobre o tornozelo...quantas saudades...era tão bom...tão bom...