- Eu quero saber quem lhe encheu o bandulho! Diga ou quebro-lhe os ossos!
- Então Joana, diz logo quem foi...é melhor! Aconselhou a Cleusona.
Fez-se em torno da moleca um silêncio cheio de curiosidade.
- Estão vendo! – exclamou a mãe - Não responde essa vira-lata, mas esperem que eu lhes mostro se ela fala ou não!
As lavadeiras tiveram que tirar-lhe das mãos o cacete, porque a velha queria crescer de novo para a filha.
- Foi seu Batista – disse ela chorando e cobrindo o rosto com o vestido.
- O Batista?
- O vendedor do armazém?
- Ah, foi aquele cara de bode? – gritou a mãe – Vem cá!
E agarrando a filha pela mão, arrastou-a até a venda.
As lavadeiras acompanharam-na ruidosamente.
A mãe na frente do grande grupo e sem largar o braço da filha que a seguia como um animal puxado pela coleira, ao chegar à porta da venda berrou:
- Ó Seu João Manoel!
- Que temos lá? – perguntou de dentro do armazém o vendeiro, atrapalhado pelo serviço.
- Venho entregar-lhe esta perdida! Seu vendedor a cobriu, deve tomar conta dela.
- Hein? Mas o que é isso?
- Foi o Batista - gritaram as lavadeiras.
- Ó Seu Batista!
O vendedor respondeu com uma voz de bandido: “Senhor?”
- Chegue aqui!
E o criminoso apresentou-se branco como a morte.
- Que fez o senhor com esta pequena?
- Não fiz nada não senhor!
- Foi ele sim! – desmentiu a Joana – Um dia de manhãzinha no capinzal, debaixo da mangueira!
O mulherio não resistiu e recebeu as palavras com um coro de gargalhadas.
- Então o senhor anda por aqui a fazer conquistas, hein? – vociferou o patrão balançando a cabeça – Muito bem! Pois agora é tomar conta da guria, e como não gosto de funcionários amigados, pode procurar trabalho em outro lugar.
Batista não respondeu patavina, abaixou o rosto e retirou-se lentamente.
Principiaram os comentários, os juízos pró e contra o vendedor, fizeram-se profecias.
Entretanto a mãe, sem largar a filha, invadira a casa de João Manoel e perseguia o Batista, que preparava já a sua trouxa.
- Então? – perguntou-lhe – Que tenciona fazer?
- Vamos! Vamos! Fale! Desembuche!
- Ora, vá se danar – resmungou o vendedor, agora vermelho de cólera.
- Vá se danar não senhor! Você há de se casar, ela é de menor!
- Batista soltou um palavrão enfurecendo a velha, que imediatamente dirigiu-se às lavadeiras:
- O cara de bode diz que não casa!
A mulherada reuniu-se de novo, agora agitadas por uma grande indignação.
- Como não casa!
- Era só o que faltava!
- Tem graça!
- Então ninguém mais pode contar com a honra de sua filha?
- Se não queria casar por que a emprenhou?
- Quem não pode não inventa modas!
- Ou ele casa ou sai daqui com os ossos quebrados!
- Cleusona! Toma cuidado que o patife não saia por aí!
- Mas onde está esse ordinário?
- Saia o canalha!
- Está fazendo a trouxa!
- Quer escapar!
- Por que não fez isso com a tua irmã?
- Safado!
- Cachorro!
- Não deixa sair!
- Chama a polícia!
À vista de toda essa agitação o vendeiro foi ter com o Batista:
- Não saia agora - ordenou-lhe - Fique por enquanto, logo mais lhe direi o que fazer.
E chegando a uma das portas do armazém gritou:
- Vão embora. Não quero barulho aqui!
- Pois então o homem que case – gritaram as lavadeiras.
- Ou então dê-nos o patife!
- Fugir é que não!
- Vamos! Vamos! Volte cada uma para sua obrigação que eu não posso perder tempo – retrucou o vendeiro.
- Traga-nos então o homem! – exigiu a mãe.
- Venha o homem! – acompanhou o coro.
- É preciso dar-lhe uma lição!
- O rapaz casa! – disse o vendeiro com ar sisudo – Vão descansadas, respondo por ele ou pelo dinheiro que a pequena irá precisar.
Essas palavras apaziguaram os ânimos e o grupo de lavadeiras aliviou.
Enquanto isso, sem dar satisfações ao vendeiro, Batista escapava por uma janela aos fundos do armazém, ganhava uma rua paralela e dirigia-se em disparada à Estação Ferroviária da pequena cidade...