quinta-feira, 24 de março de 2011

Reforma Geral


Durante minha vida de ávido telespectador, sempre assisti a exaltação e a exploração da beleza e das curvas femininas, nada de debates se isto é machismo ou não, meu objetivo é mais profundo, é ver a evolução dessa exploração ao longo dos últimos 30 anos, fase de radicais mudanças. 
Nesse período existiram dois programas em que o público masculino predominava: O Cassino do Chacrinha (Globo) e O Clube do Bolinha (Bandeirantes). Em ambos, mulheres com maiôs de lantejoulas dançavam conforme a música exibindo pernas e bumbuns lindos, do jeitinho que Deus fez,  mantidos com aulas de dança, até então consideradas a melhor forma de modelar o corpo. Como brasileiras “típicas”, possuíam seios pequenos ou médios.
No início dos anos 90 surgiu no SBT o programa Coquetel apresentado por Miele, sempre elegante, suas garotas agora com maiôs mais ousados. Seus quadros de topless com roupas íntimas faziam a alegria de muitos machões. Nesse programa o corpo ainda era natural e pequenas gordurinhas eram vistas.
Após alguns anos o fenômeno, em meio a uma febre de loiras dançarinas surge ela - Suzana Alves, a Tiazinha. Dona de um corpo escultural, rosto perfeito, cabelos negros como a noite, ela catapultou a audiência do programa “H”, encabeçado pelo agora global Luciano Huck. A Tiazinha era bela por natureza, suas coxas e bumbum modelados com malhação leve e cuidados na alimentação estavam acima da expectativa de qualquer mulher. Seu desempenho alimentou a fantasia de homens e mulheres, o chicotinho virou brinquedo sem tabu, era presente de despedida de solteiro para as mulheres e cera depiladora para os homens.
Pouco tempo depois sai de cena a Tiazinha (tudo que é bom dura pouco), e surge a escalada de mulheres cuja profissão é ser “gostosa”, estou falando da Joana Prado, a  Feiticeira. A televisão nunca foi a mesma depois dela, seios siliconados passou a ser exigência, pernas e bumbuns musculosos um padrão, não era mais possível ser bela com uma ou duas horas de academia, eram necessárias de 4 a 6 horas por dia, levantamento de peso era obrigatório. Joana em uma entrevista após ser questionada como conseguia suas curvas, vangloriava-se de fazer exercícios para o bumbum e coxas com uma carga de mais de 100 kgs.
A partir daí atingiu-se o inatingível, Deus e a genética saíram de cena e entrou o cirurgião plástico.
Mulheres que não podiam pagar por uma prótese de silicone, passaram a injetar silicone de vedação em seus corpos (o mesmo é tão tóxico que provoca intoxicação só pelo cheiro forte), levando a consequências graves e por vezes fatais. O mercado de cirurgia plástica sofreu uma explosão, médicos sem experiência, ética ou escrúpulos, faziam cirurgias com materiais de procedência duvidosa ou sem conhecer a fundo as técnicas, levando inúmeras mulheres a casos horrorosos de mutilação.
Nos dias de hoje, programas como Pânico (não assisto) empregam mulheres deformadas com próteses de silicone maiores que suas cabeças e pernas mais musculosas que as do jogador Roberto Carlos. Bem não sou açougueiro, mas filé é carne de primeira, e o gostoso é justamente aquela capinha de gordura. O que se vê nessas mulheres modeladas é músculo, músculo é carne dura, e digo mais, de segunda!
A curiosidade sobre a consistência do seio siliconado, fez com que pedisse há alguns anos para apertar o peito de uma amiga e levei um sonoro "não". Todas as mulheres apertam, não entendi o porque dessa discriminação.
Por ocasião dos desfiles carnavalescos, vimos na televisão modelos torturadas por seguidas cirurgias plásticas. Transformaram os seios em alegorias para entrar na moda da peitaria robusta das norte americanas. Entupiram as nádegas de silicone para se tornarem rebolativas e sensuais,  substituíram os narizes, desviaram costas, mudaram o traçado do dorso para se adaptarem à moda do momento e ficarem irresistíveis diante dos homens.
       Penso o seguinte, com exceção de uma correção estética considerada importante, as mulheres são maravilhosas e podem aceitar quem são e o que têm, nada pode ser melhor do que aquilo que se possui.
          Pode acreditar, estou entre os incontáveis admiradores do “original”.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Assédio sexual



Atualmente corre-se grande risco quando uma simples paquera pode ser interpretada como assédio sexual, e se a coisa for levada a ferro e fogo, a vítima terá direito a uma ação indenizatória por danos morais. Este seria o menor dos problemas, desde que a publicidade em torno do fato não lhe conferisse uma dimensão ainda maior, fazendo com que a vítima se transforme em “mais vítima”, e o infeliz do paquerador num super vilão. Normalmente o fato é veementemente censurado até pelos homens, inclusive aqueles que já saíram por aí disparando gracinhas às nossas mulheres.
O Mike Tyson que já cumpriu pena por assédio e foi reincidente no crime, acredito que deva tomar mais cuidado quando freqüentar boates e casas noturnas.
O treinador de futebol Luxemburgo foi acusado de assédio por uma manicura, ocasião em que a senhora foi chamada em seu quarto de hotel para embelezar as unhas do referido, segundo comentários, o que o mesmo queria era outra coisa. É de amplo conhecimento o taradismo que impera no meio dos boleiros, admira-me portanto que a inocente não soubesse que indo aos aposentos do futebolista a música seria bem outra.
Com saudades recordo-me das inúmeras cantadas na Ritinha Batata da Perna, acredito ser desnecessário justificar o apelido. Com a Ritinha Batatuda uma cantada só era pouco, ela exigia muitas. Das flores enviadas para a Joana, claro, sempre acompanhadas por um cartãozinho apaixonado, das desavergonhadas propostas de pé-de-ouvido com a Cleusa, dos deliciosos beijinhos roubados da Elisângela no elevador, e outras, muitas outras tetéias que deram certo, sem o receio de sofrer um processo por assédio, infelizmente, coisas do passado.
Essa tendência atual inibe sobremaneira, e hoje se solteiro fosse, teria pavor de convidar minha própria mulher para um início de namoro.
         Diante dos fatos e conhecendo minha natureza quente, criei alguns indicadores para me protegerem de eventuais dores de cabeça relacionadas com o sexo oposto, regras que sigo religiosamente, embora contra meus princípios: - não convido uma mulher para dançar por mais de uma vez, e não olho para suas pernas, olhos e boca; não entro nem me pagando em elevador cheio; se der carona ela terá que sentar-se no banco traseiro; também não convido nenhuma gostosa para tomar sorvete ou um chope, além de não aceitar convites. E tem mais, só vou à Casa de Massagem com uma testemunha a tiracolo, para que fique bem claro que exigi apenas os serviços profissionais da moça. Reconheço que por conta dessas mudanças todas, lamentavelmente deixaram de ocorrer inúmeros romances, casos de amor, um e outro amasso desinteressado, mas tudo bem, isso tem volta.
         Termino esclarecendo que futuramente não vou amaciar, agora vai ser olho por olho e dente por dente, se levar cantada de alguma perco as estribeiras, faço um escândalo daqueles, vou ao Datena, e finalmente, a denuncio por assédio.
         Daqui para frente, os direitos são iguais.


quarta-feira, 9 de março de 2011

Uma viagem daquelas


Viajar de avião não está entre meus melhores programas, aliás, minha preferência nacional é bem outra. Sei que muitos apresentam um pavor quase que incontido em voar, mesmo sabendo que apenas uma em um milhão de pessoas morre em acidentes aéreos. Alguns passam mal, sentem enjoos, tonturas, ansiedade dias antes do voo, e outros entram em pânico durante a viagem. Não me qualifico entre essas pessoas, o que não gosto é de voar com asas de terceiros.
Meu hábito sempre foi chegar ao aeroporto com muita antecedência para evitar nervosismo em filas e principalmente, pedir, se possível, um lugar na frente da aeronave, onde normalmente é mais quieto e suave, além de comprar revistas ou algum livro interessante.
Decolamos de São Paulo à noite com destino a Curitiba, sentava-me na janelinha, o tempo não estava lá essas coisas, uma chuva fraca e intermitente nos acompanhou durante boa parte do trajeto.
 - Cavalheiro – disse-me o senhor ao meu lado – Queira desculpar o incômodo, o tempo previsto para este trecho é de aproximadamente quarenta e cinco a cincoenta minutos, já completamos, o senhor não acha que já era para estarmos em procedimento de pouso?
- Senhor – respondi delicadamente - não notei redução das turbinas, portanto acredito que ainda estamos em rota.
Continuei minha leitura tranqüilamente quando:
- Cavalheiro, queira desculpar novamente, o senhor escutou se o trem de aterrisagem foi acionado?
- Não! O comandante sempre avisa a tripulação e passageiros quando o pouso é autorizado pelo aeroporto, posteriormente ele desce o trem, portanto, a aterrisagem ainda não foi autorizada.
Retomei minha leitura, alguns minutos após:
- Cavalheiro, se o senhor me permitir.
- Pois não senhor, diga – descruzei as pernas.
- Gostaria de compartilhar algo com o senhor – acredito que estamos voando em círculos.
- Em círculos? – indaguei - cruzei as pernas.
- Perfeitamente cavalheiro – respondeu-me convencido – O senhor pode observar cavalheiro, estamos há alguns minutos levemente inclinados para a esquerda, veja com seus próprios olhos.
Olhei com meus próprios olhos - É, de fato, não tinha notado, mas fique tranqüilo senhor, por se tratar de final de semana o aeroporto deve estar movimentado e aguardamos nossa vez para descer. Em situações como esta é normal voarmos em círculos.
- Espero que sim cavalheiro – respondeu levantando as sobrancelhas e balançando a cabeça – Espero que sim!
Descruzei as pernas, fechei o livro, peguei um resto de jornal já bem gasto, alguns instantes após:
- Cavalheiro, definitivamente algo está acontecendo, o senhor por gentileza pode olhar pela janelinha para verificar se são visíveis as luzes de Curitiba ou se há formação de neblina? No aeroporto de São José dos Pinhais  as neblinas são muito fortes.
Olhei – Senhor, consegui ver as luzes, deve ser Curitiba, porém já desapareceram, de fato há neblina lá por baixo.
 - Era o que eu temia – respondeu um tanto trêmulo – os pousos nessas situações são terríveis, ainda mais se a aeronave não possuir instrumentos para navegação em neblina, tem que descer no grito da torre!
Pensei – não quero ficar nervoso e não vou! Abri um trident de canela e masquei-o furiosamente.
- Ca...cavalheiro – desta vez já me apertando o bíceps do braço direito – Não quero que o senhor se irrite ou mesmo fique nervoso com o que vou falar, mas o avião andando, ou melhor, voando em círculos, quase sempre o objetivo é gastar combustível, acho que enfrentaremos uma aterrisagem de alto risco, e tem mais, o trem de pouso deve estar emperrado, desceremos de barriga!
Cuspi o trident, desembrulhei outro, era audível o som dos meus molares amassando o chicle, quando uma voz irrompeu sobre nossas cabeças:
- Senhoras e senhores passageiros, é o comandante que vos fala. Nosso pouso no Aeroporto Internacional Afonso Pena foi autorizado. Solicitamos que travem suas mesinhas e retornem o encosto de suas poltronas para a posição vertical mantendo os cintos afivelados, e por gentileza não fumem. Agradecemos a preferência esperando tê-los novamente em nossos próximos voos. Boa noite a todos e uma ótima estadia em Curitiba.
- Graças ao bom Deus – exclamou meu amigo levantando os braços e olhando para o alto – Graças ao bom Deus!
O pouso foi tranqüilo sem qualquer problema.


segunda-feira, 7 de março de 2011

Uma mulher e tanto

Uma mulher e tanto

 


Juliano estava possesso. Queria matar a mulher de qualquer jeito, e mais, não importava se as conseqüências fossem o ódio dos filhos, praga da sogra, cadeia, ah não, ele se vingaria daquela traição sórdida. Por que abandoná-lo sem mais nem menos para viver com outro? E o fulano também não ia ficar sem levar a sua para aprender a respeitar a felicidade do lar alheio.
Ferdinando e Marilda, casal sempre disposto a apaziguar os entreveros dos amigos, trataram de marcar uma reunião para colocar panos quentes na vida do Juliano e da Marluce, o plano era colocar os dois frente a frente para que a roupa suja fosse lavada. Nando e Marilda conhecendo o ciumento do Juliano, e o fato de que Marluce tinha ido longe demais, já previam que a parada seria duríssima. O outro aceitou a duras penas que Marluce fosse à reunião com o “ex”, ficou evidente uma ponta de ciúmes.
Entre xingamentos e ameaças de enfiar a mão na mulher, o que obrigou Nando a segurar Juliano, finalmente a reunião começou.
De nada adiantaram os pedidos do casal para que Marluce deixasse prá lá e retornasse ao lar, Juliano aceitaria em consideração aos amigos e principalmente, ao amor que ele sentia pela mulher. Descartada a reconciliação, Juliano entre grito e choro, reclamava por ela ter feito aquilo sem ao menos preparar-lhe o espírito. “Aí que você se engana, dizia ela. – Por várias vezes lhe avisei. Lembra-se daquele churrasco quando eu choramingava, enquanto você indiferente se empanturrava de carne? Daquela festa do chope em que você se embebedava com os amigos e eu tomava um guaraná num canto, totalmente abandonada? Muitas vezes lhe falei que as coisas não estavam indo bem. E você nem aí. Fui mais clara naquela pizzaria onde tomei vários copos de cerveja para me encorajar e falar-lhe sobre minha decisão. Enquanto eu temerosa contava  que já não lhe tinha o mesmo amor, que começava a me apaixonar por outro, e muito provavelmente iria viver com ele, você só se preocupava com as pitzas, reclamar ao garçon pela falta de sal, pela cerveja que não estava no ponto, em paquerar a moça sentada na mesa em frente. Quando saíamos e eu afirmava que queria terminar tudo numa boa, sem brigas, você se virou mais uma vez para olhar a moça, aí tive a certeza, você nem me escutava. Sim Juliano, preparei o terreno inúmeras vezes, mas como sempre, você jamais me ouviu”.
Juliano deixou correr uma lágrima, perdera uma grande mulher.