Durante minha vida de ávido telespectador, sempre assisti a exaltação e a exploração da beleza e das curvas femininas, nada de debates se isto é machismo ou não, meu objetivo é mais profundo, é ver a evolução dessa exploração ao longo dos últimos 30 anos, fase de radicais mudanças.
Nesse período existiram dois programas em que o público masculino predominava: O Cassino do Chacrinha (Globo) e O Clube do Bolinha (Bandeirantes). Em ambos, mulheres com maiôs de lantejoulas dançavam conforme a música exibindo pernas e bumbuns lindos, do jeitinho que Deus fez, mantidos com aulas de dança, até então consideradas a melhor forma de modelar o corpo. Como brasileiras “típicas”, possuíam seios pequenos ou médios.
No início dos anos 90 surgiu no SBT o programa Coquetel apresentado por Miele, sempre elegante, suas garotas agora com maiôs mais ousados. Seus quadros de topless com roupas íntimas faziam a alegria de muitos machões. Nesse programa o corpo ainda era natural e pequenas gordurinhas eram vistas.
Após alguns anos o fenômeno, em meio a uma febre de loiras dançarinas surge ela - Suzana Alves, a Tiazinha. Dona de um corpo escultural, rosto perfeito, cabelos negros como a noite, ela catapultou a audiência do programa “H”, encabeçado pelo agora global Luciano Huck. A Tiazinha era bela por natureza, suas coxas e bumbum modelados com malhação leve e cuidados na alimentação estavam acima da expectativa de qualquer mulher. Seu desempenho alimentou a fantasia de homens e mulheres, o chicotinho virou brinquedo sem tabu, era presente de despedida de solteiro para as mulheres e cera depiladora para os homens.
Pouco tempo depois sai de cena a Tiazinha (tudo que é bom dura pouco), e surge a escalada de mulheres cuja profissão é ser “gostosa”, estou falando da Joana Prado, a Feiticeira. A televisão nunca foi a mesma depois dela, seios siliconados passou a ser exigência, pernas e bumbuns musculosos um padrão, não era mais possível ser bela com uma ou duas horas de academia, eram necessárias de 4 a 6 horas por dia, levantamento de peso era obrigatório. Joana em uma entrevista após ser questionada como conseguia suas curvas, vangloriava-se de fazer exercícios para o bumbum e coxas com uma carga de mais de 100 kgs.
A partir daí atingiu-se o inatingível, Deus e a genética saíram de cena e entrou o cirurgião plástico.
Mulheres que não podiam pagar por uma prótese de silicone, passaram a injetar silicone de vedação em seus corpos (o mesmo é tão tóxico que provoca intoxicação só pelo cheiro forte), levando a consequências graves e por vezes fatais. O mercado de cirurgia plástica sofreu uma explosão, médicos sem experiência, ética ou escrúpulos, faziam cirurgias com materiais de procedência duvidosa ou sem conhecer a fundo as técnicas, levando inúmeras mulheres a casos horrorosos de mutilação.
Nos dias de hoje, programas como Pânico (não assisto) empregam mulheres deformadas com próteses de silicone maiores que suas cabeças e pernas mais musculosas que as do jogador Roberto Carlos. Bem não sou açougueiro, mas filé é carne de primeira, e o gostoso é justamente aquela capinha de gordura. O que se vê nessas mulheres modeladas é músculo, músculo é carne dura, e digo mais, de segunda!
A curiosidade sobre a consistência do seio siliconado, fez com que pedisse há alguns anos para apertar o peito de uma amiga e levei um sonoro "não". Todas as mulheres apertam, não entendi o porque dessa discriminação.
Por ocasião dos desfiles carnavalescos, vimos na televisão modelos torturadas por seguidas cirurgias plásticas. Transformaram os seios em alegorias para entrar na moda da peitaria robusta das norte americanas. Entupiram as nádegas de silicone para se tornarem rebolativas e sensuais, substituíram os narizes, desviaram costas, mudaram o traçado do dorso para se adaptarem à moda do momento e ficarem irresistíveis diante dos homens.
Penso o seguinte, com exceção de uma correção estética considerada importante, as mulheres são maravilhosas e podem aceitar quem são e o que têm, nada pode ser melhor do que aquilo que se possui.
Pode acreditar, estou entre os incontáveis admiradores do “original”.