sábado, 21 de maio de 2011

A barriguda e as lavadeiras


         - Eu quero saber quem lhe encheu o bandulho! Diga ou quebro-lhe os ossos!
         - Então Joana, diz logo quem foi...é melhor! Aconselhou a Cleusona.
         Fez-se em torno da moleca um silêncio cheio de curiosidade.
         - Estão vendo! – exclamou a mãe - Não responde essa vira-lata, mas esperem que eu lhes mostro se ela fala ou não!
         As lavadeiras tiveram que tirar-lhe das mãos o cacete, porque a velha queria crescer de novo para a filha.
         - Foi seu Batista – disse ela chorando e cobrindo o rosto com o vestido.
         - O Batista?
         - O vendedor do armazém?
         - Ah, foi aquele cara de bode? – gritou a mãe – Vem cá!
         E agarrando a filha pela mão, arrastou-a até a venda.
         As lavadeiras acompanharam-na ruidosamente.
         A mãe na frente do grande grupo e sem largar o braço da filha que a seguia como um animal puxado pela coleira, ao chegar à porta da venda berrou:
         - Ó Seu João Manoel!
         - Que temos lá? – perguntou de dentro do armazém o vendeiro, atrapalhado pelo serviço.
         - Venho entregar-lhe esta perdida! Seu vendedor a cobriu, deve tomar conta dela.
         - Hein? Mas o que é isso?
         - Foi o Batista - gritaram as lavadeiras.
         - Ó Seu Batista!
         O vendedor respondeu com uma voz de bandido: “Senhor?”
         - Chegue aqui!
         E o criminoso apresentou-se branco como a morte.
         - Que fez o senhor com esta pequena?
         - Não fiz nada não senhor!
         - Foi ele sim! – desmentiu a Joana – Um dia de manhãzinha no capinzal, debaixo da mangueira!
         O mulherio não resistiu e recebeu as palavras com um coro de gargalhadas.
         - Então o senhor anda por aqui a fazer conquistas, hein? – vociferou o patrão balançando a cabeça – Muito bem! Pois agora é tomar conta da guria, e como não gosto de funcionários amigados, pode procurar trabalho em outro lugar.
         Batista não respondeu patavina, abaixou o rosto e retirou-se lentamente.
         Principiaram os comentários, os juízos pró e contra o vendedor, fizeram-se profecias.
         Entretanto a mãe, sem largar a filha, invadira a casa de João Manoel e perseguia o Batista, que preparava já a sua trouxa.
         - Então? – perguntou-lhe – Que tenciona fazer?
         - Vamos! Vamos! Fale! Desembuche!
         - Ora, vá se danar – resmungou o vendedor, agora vermelho de cólera.
         - Vá se danar não senhor! Você há de se casar, ela é de menor!
         - Batista soltou um palavrão enfurecendo a velha, que imediatamente dirigiu-se às lavadeiras:
         - O cara de bode diz que não casa!
         A mulherada reuniu-se de novo, agora agitadas por uma grande indignação.
         - Como não casa!
         - Era só o que faltava!
         - Tem graça!
         - Então ninguém mais pode contar com a honra de sua filha?
         - Se não queria casar por que a emprenhou?
         - Quem não pode não inventa modas!
         - Ou ele casa ou sai daqui com os ossos quebrados!
         - Cleusona! Toma cuidado que o patife não saia por aí!
         - Mas onde está esse ordinário?
         - Saia o canalha!
         - Está fazendo a trouxa!
         - Quer escapar!
         - Por que não fez isso com a tua irmã?
         - Safado!
         - Cachorro!
         - Não deixa sair!
         - Chama a polícia!
         À vista de toda essa agitação o vendeiro foi ter com o Batista:
         - Não saia agora - ordenou-lhe - Fique por enquanto, logo mais lhe direi o que fazer.
         E chegando a uma das portas do armazém gritou:
         - Vão embora. Não quero barulho aqui!
         - Pois então o homem que case – gritaram as lavadeiras.
         - Ou então dê-nos o patife!
         - Fugir é que não!
         - Vamos! Vamos! Volte cada uma para sua obrigação que eu não posso perder tempo – retrucou o vendeiro.
         - Traga-nos então o homem! – exigiu a mãe.
         - Venha o homem! – acompanhou o coro.
         - É preciso dar-lhe uma lição!
         - O rapaz casa! – disse o vendeiro com ar sisudo – Vão descansadas, respondo por ele ou pelo dinheiro que a pequena irá precisar.
         Essas palavras apaziguaram os ânimos e o grupo de lavadeiras aliviou.
         Enquanto isso, sem dar satisfações ao vendeiro, Batista escapava por uma janela aos fundos do armazém, ganhava uma rua paralela e dirigia-se em disparada à Estação Ferroviária da pequena cidade...


43 comentários:

  1. "e nunca mais foi visto" hehehe Foi a primeira frase que pensei ao terminar o texto. Esse não volta mais! :) Parabéns por este texto! Uma narrativa ótima! :)

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  2. É... pelo visto Joana ficou a ver navios rsrrss..

    Beijocas super em seu coração Miguel e um fantástico fim de semana para vc!

    Verinha

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  3. Coisa que nunca acontece, não é mesmo?rs - Beijos e boa semana.

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  4. adorei o post, mil beijos, Janara.

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  5. Fiquei curiosa com o post que vc disse que ia postar e vim conferir essa raridade. Amigo Miguel, que coisa boa poder ler mais esse espetáculo de conto. Você narra um conto de uma forma que coloca quem os lê dentro da cena. Sabe, as coisas do interior sempre acontece dessa forma, em capinzal, debaixo de árvore, e o culpado sempre dá um jeito de dar no pé. E a mocinha sempre fica a ver navios... Esse Batista não volta mais, ainda mais com a Cleusona na área. Coitada da Joana! Também quem manda ir pra debaixo da mangueira... Deixo um abraço e um ótimo fim de semana.

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  6. muito bem escrito o texto. Relembra um tempo que está esquecido. Fugir p/ se livrar do compromisso. Hoje se a moça insistir, corre o risco de "desaparecer".

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  7. Oi..
    Primeiramente quero agradecer a tua visita a meu blog. Encheu-me de alegria.
    Segundamente, este teu conto é hilário.
    Não li as suas outras postagens ainda..mas só pela sua fotinho de anjo e pela imagem que ilustra este como, posso imaginar.
    Você escreve com um ritmo super gostoso, que nos prende a leitura.
    Um abraço, e espero que voltes a visitar o meu blog.
    Bj
    Ma

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  8. oi querido Miguel, primeiro quero agradecer por sua amizade e carinho saiba que você também é mto xpecial para mim.
    segundo POR FAVOR NÃO DEIXE DE ESCREVER, é que seus textos são tao bem escritos, com uma linguagem simples, falando coisas do nosso dia dia de um jeitinho bem divertido, vá lá não deixe de escrever.

    um super bjo e espero poder continuar lendo voce....te cuida e tenha um optimo domingo e uma semana maravilhosa....

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  9. Oi Miguel, deixei um recadinho lá para você!
    E quanto ao texto: Esse Batista, é danado viu... rsrs. Tenha uma ótima noite!!!

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  10. Miguel, mais uma crônica perfeita. Você tem o dom! Hoje em dia seria assim? Embaixo da mangueira e sebo nas canelas? Sei não! Parece que tem um menino já muito famoso do futebol que está com esse problema, né? A menina só tem dezesseis aninhos. Mas, nada que um "dinheirinhozinhão" não resolva. Ou será que ele casa?
    Abração.

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  11. Miguel ,
    os seus textos têm um poder sobre mim , quando terminam , penso ... _ já ! _

    Um beijo e boa semana

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  12. Kkkkkkk...e saber q ainda existe essa coisas de ter q casar! kkkkkk....Para variar, ótimo post!!!

    Bjs e fik c Deus. Tem post coletivo e selinho no blog!!!

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  13. GOSTEI DO POST.
    BELA CONSTRUÇÃO LITERÁRIA!
    TRAGICÔMICO, NÉ?:-((()))

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  14. Oi Miguel. Obrigada por estar entre os seguidores do meu Solidão de Alma, por prestigiar e enriquecer meu cantinho com sua presença de luz.Te sigo também com carinho, pois teu blog é lindo, alto astral, adorei. Bjs.

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  15. Agora me prendeu a curiosidade... Queria saber mais e mais detalhes! Rsrsrs. Coisas de cidade do interior e de um tempo que não existe mais! Um beijo!

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  16. E o Batista foi pra outra cidade aprontar outras, com certeza e a Joana, coitada, se ferrou por completo!

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  17. Que maldade! gostaria de saber onde vc arranja essas histórias... Um beijo

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  18. Miguem, quem dera se pudessemos sempre voltar a traz ne, parabens mesmo pela sua escrita, que sempre estou acompanhando, isso sim da um livro.

    abraçao

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  19. Ihihih, filminho antigo esse hein, rsrs! Boa narrativa.
    Bjssssssss

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  20. Muito espertinho esse vendeiro safado, né?...
    ...
    Até!

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  21. Miguel vou chamar o Menino de Varginha pra pegar o Batista. A essa hora o cara já deve estar em outro planeta. Rsrsrsrsrsrs. Parabéns pelo texto, brilhante como sempre!!! Um abraço forte!!!

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  22. Mais que narrativa extasiante! Quase morro de vontade de matar o Batista de raiva! Será que teremos uma continuação?
    Muito obrigada pela visita, fiquei realmente feliz com o seu comentário.
    Beijíssimos.

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  23. Não sei se fico com dó do Batista ou da menina, por serem obrigados a "resolver a vida" desse jeito! ;)
    Texto muito divertido...
    Beijão!

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  24. Amigo vim pra desejar um ótimo começo de semana, e adorei o conto. Já comentei sobre ele no coment anterior.Abraços!

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  25. Miguel!

    Sem dúvida nenhuma, eu sou sua fã! Você escreve muito, e prende a atenção até o final, sempre! É muito bom estar aqui. Eu consigo enxergar seus personagens...!

    Beijos

    Carla

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  26. Mi querido amigo: Me ha gustado tu relato de estas lavanderas que recrean un tiempo pasado.

    Brisas e beijos.

    Malena

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  27. Olá Miguel,
    Que delícia de conto! Amei! Achei graça, sorri, fiquei preocupada com o destino da moçoila, mas creio que dará tudo certo, não? Lindo conto.
    Gosto muito do jeito como você escreve. Parece escrever um roteiro para cenas de teatro ou novela. Você é muito bom naquilo que faz.
    Obrigada pelas palavras carinhosas em minhas postagens. Fico feliz que está gostando das mensagens que posto.
    Beijos,
    Maria Paraguassu.

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  28. Meu querido Miguel
    Começo por agradecer suas carinhosas palavras lá na minha «CASA». Aos poucos hei-de ir recuperando... o que é preciso é calma:)

    Como já vem sendo hábito... adorei este texto.
    Você escreve duma maneira que me faz lembrar Jorge Amado, de quem sou fã de carteirinha. Acho que li toda a obra dele, e tenho todos os livros na minha biblioteca. Até li "A casa do Rio Vermelho" escrito pela mulher (viúva) dele.
    Por aqui vc pode imaginar como gosto de ler você! Se vc me faz lembrar ele...
    Este seu conto deve ser passado nos tempos antigos:) Hoje em dia quem é que exige casamento??? :)))))))))))))

    Boa semana. Beijinhos
    Mariazita

    Olha, Miguel, estou comentando como Anónima, porque tenho um problema qualquer no blog que não me deixa fazer login nem fazer comentários personalizados. Mas vc sabe quem eu sou...

    Mariazita

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  29. Não assumir a responsabilidade, fugir ao compromisso, tudo isso continua hoje em dia, mas com outra roupagem...

    Muito interessante o conto!

    Abraço!

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  30. Olá, Miguel!
    Muito interessante o seu texto. Tive a sensação de que estava a assistir a uma peça de teatro, que talvez pretenda ser uma sátira social, com sentido de humor. A parte final da narrativa deixa-nos com um sorriso nos lábios após uma fuga benm sucedida.
    Um abraço.

    Isabel Maria Cabral Costa.

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  31. Caríssimos.

    Estou com problemas para efetuar cometários na maior parte dos meus queridos amigos blogueiros.

    O blogger não está permitindo loggin, e aqueles blogs que disponibilizam a opção "anônimo" o comentário é possível.

    O problema já persiste há vários dias e o Google não se movimenta no sentido de regularizá-lo. Comunicar-se com aquela gente? Impossível...!

    Grato a todos.

    Miguel - Literaturando.

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  32. Oi, Miguel!

    Isso me lembra as "pendências" da minha cidadezinha do interior. Tanta coisa que minha mãe contava. Quantos rapazes desapareciam sem deixar rastro... Agora a gente até ri, mas antes elas choravam... Ainda bem que a coisa mudou um pouco.
    Seus contos estão entre meus preferidos.

    Quanto aos problemas com o blogger a grande maioria está assim, mas não nos preocupemos pois as pessoas amigas trazemos no coração.

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  33. Olá..
    Fiquei feliz com sua visita e com seu comentário tão gentil.
    Estou aguardando o seu retorno!!

    um bj,

    Ma Ferreira

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  34. Oi Miguel... na verdade eu tb não estava conseguindo postar, a página inicial do blog está dando erro... Usei de um artificio que deu certo!
    Loguei no meu email do gmail e depois abri o meu blog pelo link da página do meu blog http://vidaloucavidaaa.blogspot.com/ daí cliquei em login lá em cima no canto esquerto, aí pronto, a página atualiza e fica tudo normal...

    =) tenta e me fala se deu certo!

    Bjos

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  35. Olá, Miguel. Vim retribuir e agradecer a gentileza da sua visita e do comentário. Aproveitei para conhecer o seu blog também. Ainda não o desbravei o bastante mas percebo que também se dá muito bem com as palavras. Acho esse contato pessoa-palavras maravilhoso. Voltarei outras vezes para explorar mais seus textos. Até outras vezes, rs

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  36. Passando novamente pra registrar meu carinho e agradecer o delicioso recadinho lá no Solidão. Beijos meu lindo.

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  37. Olá Miguel,

    Que legal que gostou!
    Sempre tem algo de diferente ou divertido nos posts do "momento maricotinha".
    Obrigada mais uma vez pela visita no blog!
    Um abraço.

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  38. Belo texto meu amigo. É sempre bom vir por aqui e lê essas coisas gostosas que vc escreve. Bjokas!

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  39. E a vida nasce, cresce e outra vez, multiplica-se!
    Meu amigo, tu sabes contar a realidade, e isso me agrada porque me acorda.
    Excelente assunto, nas mãos de um excelente observador da vida.

    Grande abraço Miguel, um privilégio sempre,passar por aqui.

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  40. Sua narrativa prendeu minha atenção.Gostei muito.

    Grata pela visita e comentário em meu blog.

    Beijos e ótimo fds.

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  41. Miguel

    Por vezes, nos dá uma vontade de ser Batista!
    Saltar pela janela e desaparecer da vida e/ou das vicissitudes da vida que é mais interessante ainda e menos trumático.

    Eu, particularmente, não tenho coragem de ser Batista. Continuarei enfretando essas coisas de frente. Só gostaria de saber como se enfrentaria essas coisas de costas.

    Enfrentar já sugere que seja de frente. rssssssss

    Um abraço

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  42. "Lava roupa todo dia - que agonia
    Na quebrada da soleira que fugia
    Até sonhar de madrugada
    Uma moça....
    Uma mulher não pode vacilar" _ Luiz Melodia.

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  43. Muito bem escritoeste texto! Uma narrativa ótima! faz-nos lembrar tempos já bem esquecidos.
    Bjs

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