O salão do Mazinho é um daqueles lugares agradáveis e que atrai muitos homens, principalmente aos sábados. O silêncio no local é algo inexistente, improvável, e justifica-se, Mazinho é um apaixonado em contar “causos” e piadas. De estrutura simples, possui apenas uma cadeira para o exercício da profissão. Mazinho é um barbeiro das antigas, ainda usa a toalhinha quente para amaciar a barba.
Hoje o salão encontra-se lotado, tem gente saindo pelo ladrão, lá estão o Pernambuco, o Jabuti - assim chamado devido sua baixa estatura e também por ser gordinho, praticamente sem pescoço e com as pernas curtas, o Romeu, o Tigrão, o Biguá, o Cruz-Credo - fanático corintiano, e o Ferreirinha - o mentiroso da turma.
Não é raro aparecer cliente e desistir da empreitada em virtude da quantidade de pessoas no salão, no que imediatamente alerta o Mazinho:
- Amigo, pode chegar, desse pessoal todo só dois vão cortar, o resto tá aqui só prá encher o saco!
- Tigrão – berra o Jabuti – Na primeira vez que você fez amor, o que tua namorada disse?
- Bééééé....bééééé – responde o cínico!
Uma piada aqui, outra ali, até que uma ladainha surge em frente à barbearia – é um Préstito Religioso – a popular procissão.
- Ohhhhh Virgem Maaaaria....
O Biguá não resiste e dispara em direção à procissão:
- Todo mundo aí vai pro céu, viu!
- Devagar com o andor que o santo é de barro!
Risos aqui e ali quando o Cruz-Credo sussurra que o certo era cantar assim:
- Ohhh Virgem Maaaaria, queeee bicho queeee deu?
- Aaaaave, aaaave, aaaavestruz, aaaaave, aaaave, aveeestruz.
Se o salão do Mazinho não é bem alicerçado, acredito que o mesmo poderia ter desmoronado tal a algazarra que se fez.
- Isso não é nada – começou o mentiroso do Ferreirinha – numa procissão dessas daí uma beata tropeçou e encostou a vela no traseiro da beata que tava na frente, queimando aquela parte todinha. A colega que estava ao lado presenciou horrorizada a cena. Avisou a companheira na mesma cantoria:
- Comadre Maaaria, tua bunda está deeeee fora!
E a procissão respondeu em coro:
- Isto é uma veeeergonha, praaaa Nossa Seeeenhora.
Risos, chutes na parede, o Jabuti sentado dava tapas no joelho e sacudia as perninhas, o Romeu engasgou e o Tigrão chorava.
- Olha essa barulheira aí seus desocupados – grita a Rosa da sacada de sua casa sobre o salão, uma sessentona que segundo a vizinhança ainda é virgem – Estou com meu noivo em casa, faz favor!!!
- Eh Mazinho – provoca o Pernambuco dando uma piscadela - manda aquela do papagaio perneta!
Pois não é que conheço uma barbearia como a do Mazinho? Não só a Barbearia como também um Mazinho 2!! Acho até que você frequenta o lugar e se inspirou para escrever o texto ;) Miguel, vamos ver se é a mesma - por acaso na barbearia do Mazinho tem um painel na parede com o "Santinho" das pessoas da cidade que morreram? Quem chega, principalmente os que moram fora da cidade, logo procura o painel para saber quem morreu e lógico, além das piadas, ali fica-se sabendo tudo, todas as fofocas da cidade. Bom fim de semana! Beijus,
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirAi que delícia de texto!
ResponderExcluirEu sou de uma cidadezinha do interior de Minas e lendo esse texto eu pude identificar quase todos os personagens.
Esse Brasil naive é muito lindo!
Brigada!
Lê
Maravilha de texto Miguel, cheio de “causos”. Lembrei-me da época da nossa turma dos anos de 1980 na porta do colégio Sagrada Família. O local, claro, era completamente diferente duma barbearia, mas, precisamente ali no carrinho de acarajé do “Zé” rolava cada história... Tinha uma que falava sobre as meninas que viviam comprando leite moça. Dá pra imaginar pra que. Rsrsrsrsrsrs. Um abraço forte!!!
ResponderExcluirRoberto Alexandre
Sempre passo aqui para elogiar os seus textos e hoje não será diferente! Um texto que nos remete a sensação clara de cidade do interior. Até me fez lembrar do tempo em que frequentava a barbearia "salão 7 de setembro". Eu era muito pequeno quando entrava lá para cortar o cabelo! Mas o clima era esse mesmo. :) Parabéns!
ResponderExcluirMiguel ,
ResponderExcluirvou fazer coro com os restantes comentadores ...
Maravilha .
Um beijo e boa semana
Miguel, essa barbearia é coisa que já não existe mais!! ou existe!!Mas está mutio engraçado, pena qua acabou rápido! abraço Nina
ResponderExcluirBARBEARIA, SALÃO DE CABELEREIRO... ASSUNTOS SUPERFICIAIS E HILÁRIOS... TÃO NECESSÁRIOS!!!;-)
ResponderExcluirTUDO "FAZ PARTE" E "FAZ FALTA".
JAN
Como eu gosto de ler seus textos Miguel!
ResponderExcluirBjs.
Delícia de texto.Adoro!!!
ResponderExcluirBeijos e ótimo domingo.
Olá, Miguel!
ResponderExcluirMuito obrigada por mais um momento de boa disposição.
Estamos a ler e vamos imaginando uma peça de teatro cómica com os seus personagens.
Ainda bem que os seus problemas no que ao blog concerne, estão a começar a ficar resolvidos.
Um abraço.
Tudo o que é "sério" sempre alguém vem e faz piada. Fato!... Cheguei até a imaginar as cenas que essa clientela do Mazinho criou, hehe!
ResponderExcluirAté!
kkkkk... esse salão é uma loucura, heim! Por que que todo mundo gosta de tirar um sarrinho das beatas?? tadinhas rsrs...
ResponderExcluirBeijo grande, valeu pela diversão! ;)
Miguel, aqui onde eu moro, tem a barbearia do NERSON- "Nerso baRBero", ainda usa água verva e arco, e quando corta o cabelo passa "Tarco" na nuca das pessoas e,ainda, tem a cara de pau de perguntar:
ResponderExcluirArco ou tarco?
E a maioria responde:
Água VERVA, Nerso!!!
Bjs
Fátima
http://seriax.blogspot.com
Meu caro amigo, me imaginei rolando de rir, e agarrando a barriga, que ja ta doendo. Hahahahah
ResponderExcluirTchê, me concentrei direto nessa estória, nessa hora eu tava lá. Hahahaha
Um Grande abraço pra ti, pro mazinho e a turma toda.
Uma boa semana, meu amigo.
Abração.
O melhor da história é que sempre dá pra lembrar de algum lugar parecido! Ótima semana! =)
ResponderExcluirQue pena essas barbearias tradicionais estarem em vias de extinção, né?
ResponderExcluirO texto está estupendo, rrsss
Uma semana feliz meu caro amigo.
Vai como Anónima, porque é a única maneira do comentário entrar, mas eu sou a São
Boa tarde Miguel,
ResponderExcluirSempre muito inteligentes e gostosos de ler seus textos, acabam por nos fazer imaginar as situações que você descreve...
Muito legal...
Beijos e uma semana linda pra você.
Ani
Mi querido amigo: Es delicioso tu escrito con personajes y situaciones que podrían haber existido en realidad.Muy costumbrista. Me ha encantado.
ResponderExcluirBrisas e beijos.
Malena
Miguel..adoro ser seus escritos. Leio sorrindo.
ResponderExcluirSua cronica sempre bem humorada e original.
Parabens!
Comeco ler e nem tenho vontade de parar.
Um abraco,
Ma Ferreira
Ps. este computador rsolveu nao colocar acento nem cedilha, desculpe.
Miguel que delicia de texto pra ler. Aqui na minha rua tem duas barbearia bem parecida com essa ai. Sempre está lotada , mas muito vão lá só pra conversar, e outros até pra ver jogos que são transmitido num canal fechado. Pode uma coisa dessa? Lá se faz tudo, até manicure tem por lá. Tem pessoas que ainda acreditam que as barbearia iriam acabar ou se transformar em grandes salões, mas acredito que nunca vai acabar. Adorei o texto amigo! Um abraço!
ResponderExcluirMIguel, por acaso o Mazinho não é casado com a DIVA (Departamento de Informações da Vida Alheia)?
ResponderExcluirSe for, acho que conheço ele. Mas, em todo o caso, teu texto primoroso evocou em mim lembranças muito queridas, puro deleite, que guardo a sete chaves. Obrigada por isso. No passado as barbearias eram bem assim, clientes cativos, e cada 'causo' daqueles!
Bjsssssssss
Meu querido amigo Miguel
ResponderExcluirUm texto engraçadíssimo! Em Portugal, pelo menos nas cidades grandes, os barbeiros são muito raros. Os homens cortam o cabelo nos salões unisexo. Na minha cabeleireira vão alguns homens e rapazes mais novos para cortar o cabelo.
Mas o ambiente que se vivia nos barbeiros era assim mesmo como vc descreve - sempre com risotas, anedotas e galhofa!
Não que eu os frequentasse, LÓGICO!!!, mas ouvia meu pai contar:)))
Os meus olhos ... não tem grande diferença, por enquanto (obrigada por seu cuidado), mas o médico falou-me em 3 meses para se notar (ou não...) melhoria. Estou aguardando...
Continuação de feliz semana. Beijinhos
Bom estar aqui, Miguel. Seus textos são ótimos e o bom humor com que você os trata, contagia quem lê. Beijos meu querido.
ResponderExcluirOi Oi Miguel,
ResponderExcluirUma delícia de texto! Obrigada por compartilhar conosco... Uma pitada de alegria no nosso dia.
Obrigada pela sua visita!
Bjinho!
Oi, Miguel! Eu adoro suas dicas de organização lá no blog. Acho que você é bem organizado com as visitas. Eu sou muito atrapalhada...
ResponderExcluirHoje vim correndo aqui ler a história do salão do Mazinho. Miguel eu queria ser uma mosca para ver o que acontece nestes lugares onde só os homens se reúnem... quando criança eu queria ir para o bar do meu padrinho só para ouvir as conversas... meu pai me trazia pelos cabelos para casa... e eu não entendia....ninguém me explicava porque não podia...
Agora eu me vingo lendo sobre.
Beijos meu querido!
Acho seu blog muiiiiiiito legal, uma alegria ler seus posts!
ResponderExcluirAbraco!
No interior de PE, em alguns locais, chamam essas barbearias de 'pela porco'. Mas lá rola todo tipo de assunto, sem dúvida.
ResponderExcluirAbração cara!